Antes de compartilhar minhas expectativas sobre os impactos da atualização da NR-1, é importante trazer alguns contextos que ajudam a compreender a relevância dessa mudança.

Empresas que lidam com riscos físicos, químicos, biológicos ou de acidentes já têm a obrigação de mapeá-los e atuar sobre eles. Riscos psicossociais — como estresse ocupacional, assédio moral, conflitos interpessoais e esgotamento emocional — já apareciam mencionados em outras normas regulamentadoras, como a NR-17. Mas agora, com a nova NR-1, ganham centralidade e passam a ter um peso claro nas exigências de gestão de riscos.

Diante desse cenário, vejo a atualização da NR-1 como um passo firme na direção de consolidar algo que já não é novidade para quem está atento às mudanças do mundo do trabalho: um ambiente saudável não é um benefício extra, mas uma condição necessária para o crescimento das empresas — e ele só é possível com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais em todos os níveis da organização.

Isso nos leva a refletir também sobre o futuro da educação profissional.

De mudança normativa à transformação educacional

A pressão do mercado por profissionais com competências comportamentais deve antecipar esse desenvolvimento — que, aos poucos, deixará de ser apenas uma etapa da formação continuada nas empresas para ganhar espaço ainda na formação inicial: nas faculdades, escolas técnicas e até no ensino médio.

Estamos caminhando para uma transformação profunda na estrutura educacional do país: da educação meramente técnica para uma educação mais sistêmica, onde competências emocionais e sociais caminham lado a lado com o conhecimento técnico.


Essa mudança não será rápida, mas será inevitável e transformadora.

E no presente? Quatro perfis de empresas diante da NR-1

Na prática, hoje vejo pelo menos quatro perfis de empresas frente à nova exigência:

1. As que já investem em ambientes emocionalmente saudáveis


Essas empresas entenderam, na prática, que cuidar do clima organizacional traz retorno direto em produtividade, engajamento, reputação e até no faturamento. Já vivem os benefícios e tendem a sair na frente, inclusive em inovação e atração de talentos.

2. As que desacreditam da fiscalização e esperam que “não pegue”


Empresas que adotam essa postura assumem um risco duplo: o jurídico e o cultural. Quando forem forçadas a se adequar, o custo será mais alto — tanto financeiro quanto em resistência interna, já que terão que lidar com um ambiente deteriorado e uma equipe já sobrecarregada.

3. As que ainda não sabem do que se trata


Nesse grupo, a falta de informação é o maior obstáculo. Muitos empresários acreditam que a atualização da NR-1 não se aplica ao seu negócio, quando na verdade ela se aplica a todas as empresas, de todos os portes. Nesses casos, a disseminação do conhecimento é essencial — e pode evitar prejuízos futuros.

4. As que vão se adequar por obrigação, mas vão continuar por convicção


São empresas que começarão o processo apenas para cumprir a exigência legal. Mas, ao perceberem os efeitos — como a redução da rotatividade, menos afastamentos e aumento do engajamento — transformarão a adequação em estratégia. O que era obrigação se tornará cultura.

A NR-1 como oportunidade de transformação

Mais do que uma exigência legal, vejo a atualização da NR-1 como uma grande oportunidade de levar a gestão das empresas para outro patamar — mais humano, mais estratégico e mais conectado com os desafios reais do presente.

Ela nos convida a olhar para o ambiente de trabalho de forma mais ampla, mais cuidadosa e mais responsável. E é justamente isso que trará o retorno mais significativo: não só o cumprimento da norma, mas o fortalecimento de equipes, líderes e negócios.

Bases para este Insight

FUNDA CENTRO. Abril verde alerta para a saúde e segurança no trabalho. Brasília, 2025, abr. Disponível em: https://www.gov.br/fundacentro/pt-br/comunicacao/noticias/noticias/2025/abril/abril-verde-alerta-para-a-saude-e-seguranca-no-trabalho#:~:text=Afastamento%20por%20transtornos%20mentais,e%20mais%20eficaz%20nesse%20tema. Acesso em: 17 jul. 2025.

Autora

Eliude Tavares

Especialista Parceira

Fundadora da ETR Treinamento e Desenvolvimento

___________________________

5 minutos de leitura

21 de julho de 2025

________________________

Tópicos Relacionados

• Entre 2023 e 2024, o número de afastamentos relacionados à saúde mental aumentou 68% no Brasil.
(Funda Centro, 2025)

• A pandemia acelerou uma mudança significativa na forma como as pessoas se relacionam com o trabalho, ampliando o debate sobre qualidade de vida, saúde emocional e bem-estar nas organizações.


• Ambientes emocionalmente saudáveis estão diretamente ligados ao aumento de engajamento, produtividade e resultados sustentáveis.

Quer evitar riscos legais e cuidar da sua equipe?

A especialista Eliude Tavares mostra por onde começar no evento ao vivo, via Zoom, no dia 24/07, às 19h.

Receba nossas ideias direto no seu e-mail.

Assine a newsletter da APPLY e acompanhe reflexões, tendências e estratégias para sua organização